Para Ramos, a reivindicação de ambientalistas para que a construção seja suspensa não é exagerada, já que há uma proposta feita por eles para que se estude um novo traçado da rodovia, que passaria mais ao norte, longe dos principais parques ambientais da região.
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| Vista do Parque da Estadual da Cantareira, um dos locais que será afetado pelo atual trajeto do Rodoanel |
A licença para a construção do trecho Norte do Rodoanel vem mobilizando diversos ambientalistas do país. Após a aprovação feita pelo Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente), em junho de 2011, novas discussões sobre a obra apareceram. Para os ambientalistas, a obra vai destruir parte da biodiversidade da região, já para engenheiros, a construção da via é de extrema importância por uma série de fatores.
A maior preocupação dos especialistas em meio ambiente é o fato de que a obra irá impactar diretamente na fauna e flora da Serra da Cantareira, floresta considerada a maior em área urbana do mundo, com vegetação vasta e diversas espécies de animais.
“A diversidade de animais e árvores nativas nessa região é muito grande. Além disso, existem diversas nascentes que podem ser atingidas” afirma Luciano Ramos, biólogo do Instituto de Botânica e do Parque Estadual da Cantareira.
O biólogo frisa também a preocupação referente aos moradores da região, que terão suas residências desapropriadas para a construção da rodovia, além de problemas com ruído, vibrações, emissões atmosféricas que podem ter efeito sobre a saúde humana, riscos ao patrimônio cultural, histórico e arqueológico.
De acordo com dados do governo e da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), o novo trecho, que fará parte da maior obra viária do mundo, terá 44 quilômetros de extensão e fará a conexão entre as rodovias Dutra, Fernão Dias e Bandeirantes. Pelo trajeto, cerca de 2.000 famílias que ocupam terrenos invadidos da região terão de ser removidas. A escolha que essas pessoas têm é se inscrever em programas de habitação ou aceitarem uma indenização de 40.000 reais cedida pelo Estado.
Para o engenheiro de obras sênior Augusto Portugal, a obra vai melhorar as condições de vida dessas pessoas. “Algumas pessoas que vivem em parte do trecho Norte tem uma condição de moradia muito ruim. Hoje, eles estão em morros, eles não tem infraestrutura nenhuma de habitação, água, esgoto, vias, serviços urbanos. Provavelmente irão para um local melhor.”
Com a construção da via, que foi orçada em 6,1 bilhões de reais, espera-se que cerca de 62.000 carros passem lá por dia, o que irá resultar numa diminuição do trânsito e da poluição na capital. 112 hectares de mata nativa desaparecerão – o equivalente a 160 campos de futebol. Entretanto, a Dersa (empresa responsável), promete reflorestar uma área quatro vezes maior.
De acordo com Portugal, é certo que, com a via no trecho Norte, vai haver grande melhora em diversos fatores da cidade. “Vão ser desviados caminhões das estradas, eles vão pelo rodoanel, contornado a cidade. Tirando o caminhão, vai tirar a poluição causada por ele, o congestionamento devido a outros transportes que existem na cidade, principalmente nas marginais, e vai ter uma qualidade de vida para a cidade um pouco melhor,”
Na Serra da Cantareira está situado o principal sistema de abastecimento de água da capital, além das dezenas de nascentes. A obra, de acordo com o biólogo Luciano, vai impactar não só no ecossistema da região, mas na cidade em geral, pois há um risco para a qualidade de água superficial e subterrânea devido a concentração de poluentes gerados por diversos motivos decorrentes da construção.
Já o engenheiro acredita que há uma maneira mais viável de se fazer o traçado sem que haja tanto impacto. “A obra que menos impacta, tanto para meio ambiente quanto para as pessoas, é o túnel. Ele não impacta, por exemplo, na mata, porque a camada de solo que a mata em si precisa é relativamente pequena. Coisa que varia de 2 a 15 metros mais ou menos. O túnel é muito mais profundo, não vai impactar tanto.”

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